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domingo, 12 de abril de 2009

DOMINGO DE PÁSCOA

POEMA NO DOMINGO DE PÁSCOA

No domingo de Páscoa
vi um cego a almoçar num restaurante.

Levava o garfo à boca, e entretanto sorria,
candidamente,
como só os cegos sabem sorrir.
Comia frango, e ao servir-se do garfo ora trazia
comida nova, ora coisa nenhuma,
ora tendões, e peles já antes mastigados,
ou tudo junto,
dependurado de qualquer maneira,
sorrindo sempre, candidamente.

Eu então levantei -me e, assim mesmo,
de sapatos castanhos,
calças e casaco da mesma cor,
alto, magro e bastante calvo,
aproximei-me dele
e disse-lhe, imperativamente:
- Abre os olhos !

Que cegueira !
(António Gedeão)